ATA DA NONA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO
LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM 13-5-2002.
Aos treze dias do mês de maio de dois mil e três,
reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara
Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e trinta e seis minutos,
constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os
trabalhos da presente Sessão, destinada a homenagear o qüinquagésimo quinto
aniversário de independência do Estado de Israel, nos termos do Requerimento nº
009/03 (Processo nº 0350/03), de autoria da Mesa Diretora. Compuseram a MESA: o
Vereador João Antonio Dib, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o
Senhor Ibsen Pinheiro, representante do Senhor Governador do Estado do Rio
Grande do Sul; o Senhor Celso Knijnik, representante do Senhor Prefeito
Municipal de Porto Alegre; o Senhor Horlando Ortega, Cônsul Honorário da
Colômbia; a Senhora Matilde Gus, Presidenta da Federação Israelita do Rio
Grande do Sul; o Senhor Mario Eduardo Anspach, Presidente do Conselho Geral de
Entidades Judaicas da Federação Israelita do Rio Grande do Sul; o Rabino Mendel
Liberow; o Vereador Isaac Ainhorn, na ocasião, Secretário “ad hoc”. A seguir, o
Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução dos Hinos
Nacionais Israelense e Brasileiro e, após, concedeu a palavra aos Vereadores
que falariam em nome da Casa. O Vereador Isaac Ainhorn, em nome das Bancadas do
PDT, PSB e PPS, discursou sobre a importância da instituição do Dia da Solidariedade
ao Estado de Israel, reportando-se à Lei que deu origem a essa comemoração na
Cidade de Porto Alegre. Também, historiou fatos contemporâneos à criação desse
Estado, ocorrida em mil novecentos e quarenta e oito e referiu-se aos conflitos
aos quais o povo israelense tem se submetido desde então. O Vereador Marcelo
Danéris, em nome da Bancada do PT, chamou a atenção para o fato de estar sendo
homenageado o qüinquagésimo quinto aniversário do Estado de Israel em meio a um
cenário mundial de transformações políticas e sociais. Ainda, apresentou dados
estatísticos referentes ao Estado de Israel, tais como a taxa de mortalidade
infantil, a expectativa média de vida, a renda “per capita” e o índice de
analfabetismo. O Vereador Pedro Américo Leal, em nome da Bancada do PPB,
mencionou a influência exercida pelos judeus no processo de desenvolvimento dos
Estados Unidos da América e destacou a conquista de cem Prêmios Nobel por parte
de celebridades israelenses. Também, enalteceu aspectos culturais do povo de
Israel e reportou-se ao clima de tensão existente nesse país em razão de
constantes atentados terroristas. O Vereador Sebastião Melo, em nome da Bancada
do PMDB, discorreu sobre a participação de Oswaldo Aranha, diplomata gaúcho e
ex-representante brasileiro na Organização das Nações Unidas, na criação do
Estado de Israel, em mil novecentos e quarenta e oito. Ainda, elogiou os
métodos utilizados por esse país na realização da reforma agrária e salientou a
diversidade de etnias e o avanço tecnológico existentes em Israel. O Vereador
Reginaldo Pujol, em nome das Bancadas do PFL e PSDB, afirmou ter sido a criação
do Estado de Israel, em mil novecentos e quarenta e oito, a concretização de um
ideal da comunidade judaica de constituir o seu próprio Estado. Relativamente
ao assunto, exaltou a perseverança demonstrada pelo povo israelense que,
sofrendo sucessivas agressões ao longo de sua história, permanece lutando em
defesa de seu território. Após, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao
Senhor Abraão Winogron, que relatou sua experiência como médico residente em
Israel no mesmo período em que eclodiu a Guerra do Dia do Perdão, em mil
novecentos e setenta e três. Também, afirmou ser de natureza étnica a razão
pela qual perduram conflitos armados em território israelense e enfatizou a
necessidade da pacificação entre muçulmanos e judeus. A seguir, o Senhor
Presidente concedeu a palavra à Senhora Matilde Gus, Presidenta da Federação
Israelita do Rio Grande do Sul, que ressaltou a importância da homenagem hoje
prestada por este Legislativo aos cinqüenta e cinco anos de existência do
Estado de Israel. Após, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé,
ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar,
agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às dezoito
horas e cinqüenta e dois minutos, convocando os Senhores Vereadores para a
Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos
pelo Vereador João Antonio Dib e secretariados pelo Vereador Isaac Ainhorn,
como Secretário "ad hoc". Do que eu, Isaac Ainhorn, Secretário
"ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após
distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pela Senhora 1ª Secretária e
pelo Senhor Presidente.
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Estão abertos os trabalhos da presente
Sessão Solene, destinada a homenagear o 55.º aniversário da Independência de
Israel. Compõe a Mesa: o Dr. Ibsen Pinheiro, representante do Governador de
Estado do Rio Grande do Sul; a Sr.ª Matilde Gus, Presidenta da Federação
Israelita do Rio Grande do Sul; o Sr. Mario Eduardo Anspach, Presidente do
Conselho Geral de Entidades Judaicas da Federação Israelita do Rio Grande do
Sul; o Sr. Rabino Mendel Liberow; o Dr. Horlando Ortega, Cônsul Honorário da
Colômbia; e o Dr. Celso Knijnik, representante do Prefeito Municipal de Porto
Alegre.
Convidamos
todos os presentes para, em pé, ouvirmos os Hinos Nacionais do Estado de Israel
e do Brasil.
(Ouvem-se
os Hinos Nacionais do Estado de Israel e do Brasil.)
Estamos
reunidos para lembrar os cinqüenta e cinco anos da Independência do Estado de
Israel. E quando se fala em Independência do Estado de Israel, tem que se falar
no Brasil também e tem de ser lembrada a extraordinária figura de Osvaldo
Aranha. Mas não é este Presidente que vai fazer a saudação ao evento que marcou
profundamente o mundo moderno em que nós vivemos.
O
Ver. Isaac Ainhorn está com a palavra, como proponente desta Sessão, que é
oficializada na Câmara Municipal, e falará pelas Bancadas do PDT, do PSB e do
PPS.
O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda
os componentes da Mesa e demais presentes.) Nós vivemos aqui uma situação
extremamente singular de um País, de um Estado que tem nesta Casa uma data
correspondente, alusiva à solidariedade a esse Estado; de forma singular, esta
Câmara, há mais de doze anos, mais especificamente no ano de 1990, ela criou um
dia de solidariedade ao Estado de Israel. Ela, por assim dizer, consagrou de
forma permanente, por ironia do destino, aquilo que anualmente Vereadores das
mais variadas tendências partidárias desta Casa requeriam anualmente: uma
Sessão em homenagem à Independência do Estado de Israel. Mas que singularidade,
que estranha circunstância de um País constituído, de um País estabelecido, a
exemplo de centenas e dezenas de países: só o Estado de Israel tem um dia
específico de solidariedade a um Estado que já existe e que no dia 14 de maio,
dentro do calendário gregoriano, completa o seu 55.º aniversário de existência.
A explicação, curiosamente, e de forma um pouco até dolorosa, deve ser objeto
até de uma confissão, de um depoimento e da sensibilidade que esta Casa teve em
constituir esse dia como um dia oficial da cidade de Porto Alegre em
solidariedade ao Estado de Israel. Era melhor que não precisasse existir,
porque talvez um dia a comemoração deixe de ter um sentido e se torne inócua;
no entanto, a realidade é outra: anualmente, antes mesmo da constituição dessa
Lei Municipal que criou o dia de solidariedade ao Estado de Israel, como eu já
disse, se realizavam aqui homenagens apresentadas ora por um Vereador ora por
outro, como os Vereadores João Antonio Dib, decano dos Vereadores desta Casa,
Ver. Brochado da Rocha, Ver. Jorge Goularte, Ver. Martin Aranha Filho, autores
desta homenagem antes mesmo da oficialização deste dia nesta Casa. É que,
dolorosamente, meu caro sempre Deputado Ibsen Pinheiro, desde a constituição do
Estado de Israel, no dia 14 de maio de 1948, depois de todo o sofrimento, da
história da saga judaica e da maior tragédia que se abateu sobre um povo, que
foi o Holocausto, dolorosamente, no dia seguinte à declaração da constituição
do Estado de Israel pelo parlamento judeu, a Knesset, Israel, triste e dolorosamente, pode-se dizer que nesses
seus cinqüenta e cinco anos de existência, a despeito dos extraordinários
progressos, das contribuições extraordinárias, dos atos de solidariedade, das
descobertas, das contribuições para a sociedade, para a humanidade, do gesto de
estender as mãos, dolorosamente, Israel, nos seus cinqüenta e cinco anos de
existência, não teve um dia que se poderia dizer, simbolicamente, de
tranqüilidade. Agora mesmo, vivemos, Ver. Reginaldo Pujol e Ver. Sebastião
Melo, que nos acompanham e sempre estão solidários à nossa luta, nós assistimos
a um grande filão de esperança no restabelecimento das conversações de paz a
partir da constituição de uma nova estrutura governamental em relação ao povo
palestino. Ninguém mais do que os judeus, os israelenses, a comunidade judaica
como um todo, o Estado de Israel, seus mais de cinco milhões de habitantes,
ninguém mais sonha com a paz do que o povo judeu. Israel está exaurida na
guerra, cansada de ver os seus filhos serem mortos em situações, ano após ano,
de atentados terroristas que não atingem soldados em armas, mas atingem civis,
pessoas que nada têm a ver com o ato de conflito, digo que têm a ver e não têm,
porque são pessoas imbuídas no sentido de que aquele é o seu País, aquele é o
seu Estado, mas que não estão em atos de beligerância para serem crianças,
senhoras, velhos, idosos e jovens, cruelmente eliminados em atentados de
natureza terrorista. Não me apontam nem um ato em que a ação do Estado de
Israel, independentemente do Governo que lá esteja, eleito democraticamente
pela maioria dos israelenses do Estado de Israel, tenha praticado que não fosse
de revide a uma ação de hostilidade, a uma ação de beligerância, a uma ação de
violência, de terrorismo praticado contra os seus habitantes, contra o seu
povo, dentro do Estado de Israel e fora do Estado de Israel.
Uma
luz de esperança ganha o mundo, neste momento, quando há uma nova possibilidade
de se sentarem à mesa representantes do Estado judeu e do povo palestino, numa
nova feição, para buscarem caminhos para a paz. É doloroso também para o povo
palestino, mas, infelizmente, há os senhores da guerra, há aqueles que não
aceitam até hoje a constituição do Estado de Israel e que poderá, o futuro
aponta, haver a criação do Estado Palestino, mas cujos atos de hostilidade não
cessarão em relação ao Estado de Israel.
Agora,
também, nesta Sessão Solene, oriunda de um Lei Municipal que realiza atos de
solidariedade na Câmara Municipal da cidade de Porto Alegre e das entidades
judaicas, com a presença e a participação direta da Federação Israelita do Rio
Grande do Sul, realizamos este ato. Como é boa a realização deste ato! Há
poucos meses, quando estive com S. Ex.ª o Sr. Embaixador do Estado de Israel,
em Brasília, ele me dizia: “Como é importante para o Estado de Israel os atos e
ações permanentes da Câmara Municipal de Porto Alegre em relação ao Estado de
Israel e ao povo judeu. Quiséramos – dizia ele – mais cidades de Porto Alegre
realizando atos de solidariedade semelhantes a esse que a Câmara Municipal de
Porto Alegre realiza.” Há sete anos, nós colocamos uma placa, no hall de entrada desta Casa, em homenagem
aos três mil anos de Jerusalém, uma das cidades mais antigas do mundo, ali
constava: “Homenagem da Câmara Municipal de Porto Alegre a Jerusalém, capital
do Estado de Israel e centro de três religiões: Judaísmo, Cristianismo e
Islamismo.” Esse é o sentido de Jerusalém. E para o povo judeu, Jerusalém
representa, não só a identificação religiosa, mas, também, identifica em
Jerusalém a própria Capital, o centro, o eixo, o cérebro, a estrutura, a vida
do Estado de Israel.
Por
isso, Sr. Presidente, invocamos, aqui, algumas figuras tão caras. Há pouco, V.
Ex.ª referia a figura de Osvaldo Aranha. Eu referiria, aqui, além dos
Vereadores, que já mencionei, além de V. Ex.ª, que preside esta Sessão, algumas
figuras singulares, umas oriundas da comunidade judaica, como é o nosso
talentoso e extraordinário ex-Deputado Federal Henrique Henkin, que se
encontra, aqui, prestigiando este ato; invoco, também, além de Osvaldo Aranha,
Henrique Henkin; figuras tão caras
da comunidade rio-grandense ao Estado de Israel, como Coelho de Souza, como
Mila Cauduro, autora do livro Lar Nacional Judaico, Brito Velho e tantas outras
figuras que tiveram um papel histórico nesses cinqüenta e cinco anos de
solidariedade ao Estado de Israel, onde V. Ex.ª, Dep. Ibsen Pinheiro, se
encontra, também, nesta página que, para o povo judeu, para o Estado de Israel
é muito cara a solidariedade de homens que fizeram a história do Rio Grande,
como V. Ex.ªs fazem a história do Rio Grande e hoje estão presentes
a este dia de homenagem e de solidariedade ao Estado de Israel. Oxalá, dentro
de alguns anos, possamos dizer que a paz está consolidada naquela conflagrada
região do mundo e que, talvez, um dia, melhor é que esta Lei Municipal se torne
inócua. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. MARCELO DANÉRIS: Sr. Presidente, Sr.ªs
Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais
presentes.) Nós estamos homenageando os cinqüenta e cinco anos do Estado de
Israel num momento muito importante para nós brasileiros e para a história do
Brasil. Não é um ano qualquer em que nós podemos homenagear o Estado de Israel.
É um ano em que o País vive um momento de profunda esperança, de uma grande
vontade de mudança e de transformação. Se é um momento tão especial para nós,
brasileiros, e diante dos cinqüenta e cinco anos do Estado de Israel, o que nós
podemos, como referência para nós, brasileiros, falar do que é Israel? Eu quero
aproveitar este momento, exatamente, para que nós possamos comemorar os
cinqüenta e cinco anos do Estado de Israel, um momento de felicidade mútua para
além dos momentos - como disse aqui o Ver. Isaac Ainhorn -, dos momentos
tristes que marcaram, ao longo da história, o povo judeu.
Fui
buscar algumas informações sobre o Estado de Israel, que são impressionantes,
principalmente para nós que vivemos este momento de mudança. Algumas informações,
como a mortalidade infantil no Estado de Israel, que é nove para mil. A
expectativa de vida dos homens, que é de setenta e quatro anos e a das
mulheres, que é de setenta e oito anos. Uma renda per capita de 13 mil e 200 duzentos dólares; uma inflação anual de
9%; investimento de 16% em educação e um índice de analfabetismo zero, em
Israel; 10% do orçamento para a educação e 16% em investimentos para o
bem-estar social.
Como
não homenagear e não reconhecer um povo que fez o deserto florescer? Qual o paradigma
para nós brasileiros? Qual é a referência que nós temos que ter, hoje, diante
de um período de profunda esperança de mudança no nosso País? Brasil, 500 anos.
Israel, 55 anos. Acho que nós temos muito o que nos referenciar, para quem quer
fazer esta mudança. O que nós temos de buscar de experiência em Israel, que
conseguiu fazer o deserto florescer, para o nosso semi-árido aqui no País? Como
alcançar taxas de analfabetismo zero, como Israel? Que Estado é esse? Que povo
é esse, com a sua cultura, que foi capaz de construir um Estado tão jovem e que
tem índices sociais, econômicos, políticos tão positivos comparados a um País
com 500 anos, como o Brasil?
Eu
quero fazer um apelo, desta vez eu vim pedir, e fazer um apelo muito especial
aos brasileiros da comunidade judaica: que possam, com a experiência do seu
povo, com a experiência de um Estado tão jovem que já conquistou tantas coisas,
nos ajudar a construir este mesmo caminho, para transformar também o Brasil num
País que tenha tanta justiça social, tanto equilíbrio de renda, tanta
distribuição de renda, com uma renda per
capita de 13 mil dólares. Que possam os brasileiros da comunidade judaica
colaborar e contribuir neste momento tão especial que o nosso País vive. É um
momento de tanta esperança, de tanta vontade de construir um país diferente, um
país melhor, com justiça social e com distribuição de renda. Que possa o povo
da comunidade judaica também nos mostrar o caminho de recuperação de toda essa
região do semi-árido brasileiro, assim como o povo israelense soube fazer com o
seu deserto, e produzir tanto - nem falei nos dados da agricultura, que são
impressionantes.
Então,
vimos aqui fazer um pedido: que neste momento de comemoração dos 55 anos do
Estado de Israel e dos 500 anos do Brasil, que nós, que inauguramos uma nova
era no nosso País, e queremos que ela se confirme como um momento de real
mudança, de transformação e de avanço, possamos contar com a experiência desse
povo e desse Estado que, ainda tão jovem, foi capaz de tantas conquistas. Queremos
as mesmas conquistas, queremos a parceria permanente, a contribuição
permanente, a construção permanente, conjuntamente, com a comunidade judaica.
Esperamos
que o Brasil tenha um caminho com a luz que teve o caminho do Estado de Israel.
Queremos essa experiência que construiu esse Estado, e queremos, também, da
mesma forma, contribuir com a experiência de paz que o nosso País tem, e
podemos trabalhar juntos: vocês construindo um novo país, e nós ajudando a
construir a paz. Acho que este é o grande momento dos 500 anos do Brasil e dos
55 anos do Estado de Israel. Trabalharemos juntos. E o número cinco, que é
representado pelo mês de maio, tentei descobrir o significado do número cinco,
mas não consegui a tempo, mas imagino que seja algo muito representativo.
Então,
que possamos construir um caminho de desenvolvimento aqui, e de paz em Israel.
É isso o que deseja a Bancada do Partido dos Trabalhadores. Muito obrigado.
(Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Pedro Américo Leal falará em nome
do Partido Progressista Brasileiro.
O SR. PEDRO AMÉRICO LEAL: Ex.mo Sr. Presidente, Ver.
João Antonio Dib, dispenso-me de citar os componentes da Mesa, por já terem
sido enaltecidos e citados.
Cinqüenta
e cinco anos de Israel! Se abrirmos os jornais de hoje e olharmos os
noticiários, a impressão que temos é de que a paz em Israel reina, aparente, é
claro!
É
que os noticiários só transmitem notícias da última guerra, a invasão do
Iraque. Manchetes em todos os jornais, esse avanço americano, inédito - sou
militar, sei muito bem que é uma façanha -, em menos de trinta dias, chegaram a
Bagdá.
E
Israel? Desapareceu dos jornais, sim. Esse pedaço de terra, a nesga, que há 55
anos deu lugar a uma decisão de um brasileiro, Osvaldo Aranha, tornou-se o
Estado de Israel, cede lugar, hoje, aos americanos na sua epopéia da maior arma
de guerra do mundo.
Não
tenham dúvidas, estive nos Estado Unidos duas vezes; os judeus estão lá;
impulsionaram aquele país. Ninguém me informa; eu vi.
Avanços
de tanques de guerra patrulhando as ruas da Palestina cedem lugar a cenas mais
bélicas. Mas, e Sharon? Sharon é uma figura que ocupava jornais, não ocupa
mais. O que se passa? É que lá não se brinca.
Sharon
desapareceu do cenário, naquele seu passo acelerado, meio gordo, tentando
evitar atos de terrorismo, não sei como que ele tem aquela velocidade,
dia-a-dia, obriga a constante vigília, uma expectativa armada.
O
Estado de Israel é expectativa armada, pode suceder, a qualquer momento, algo.
O que é? Não sei! Um ato de terrorismo? Sim, pode ser.
Israel
continua em combate, tenho certeza disso.
Pretendia,
antes de me ir daqui da Câmara, antes de ir para outra melhor, visitar aquela
terra, centro espiritual do universo, Tel-Aviv, centro de modernidade, venho transferindo,
tenho convite, tudo pago, venho transferindo a viagem ano a ano.
Quero
sentir, quero ver, quero avaliar aquele campo magnético, aquelas bandas do
mundo, onde tudo começou. Isso me intriga. Hoje é uma nação onde os confrontos
religiosos, históricos, envolvem dois povos, três povos em torno de lugares
sagrados, por onde passaram gigantes. E não andaram muito, não, ficaram por ali
pregando sua fé inabalável. Isso me intriga.
Hão
de dizer: luta-se para resistir, manteve-se o que se obteve, o que foi legado
por Osvaldo Aranha, de simples areia fizemos campos verdejantes, atravessamos
anos épicos, o povo trazido do Egito por Abraão, quarenta anos subjugados nas
areias do deserto, na rota do êxodo, o Mar Vermelho se abrindo. Custo a crer
nisso, mas se abriu. É inacreditável. Tudo isso me intriga.
De
lá para cá, não houve um dia sem luta. Onde é que está o Winogron? Ali ele. Ele
que me confirme tudo isso. Ele, que esteve lá, sabe disso, foi homem do
exército israelense. Não se baixou a cabeça, substituiu-se a mala de bugigangas
- lembram-se daquelas malinhas de bugigangas que se conduzia na mão - por armas
cada vez mais sofisticadas. Compradas onde? Do americano? Mas americano é
filial de Israel. O povo tornou-se guerreiro.
Como
explicar? Como entender tudo isso?
O
Exército americano, que invadiu, tomou o Iraque em busca de armas de
extermínio. Não sei o que vai fazer. Tem de dar uma explicação ao mundo.
O
povo judeu, de lá para cá, neste meio tempo em terra dos outros, obteve, nada
mais nada menos, cem prêmios Nobel, Winogron. Diz você que foi junto com os
árabes; três de Paz. Cem prêmios Nobel é muita coisa, e não tinham pátria, é de
admirar, sempre em guerra, sem um dia de paz, estão lá as Colinas de Golan, a
Mesquita de Omar, o Muro das Lamentações, a Esplanada das Mesquitas, enfim, uma
dezena de templos de fé. Hão de dizer os soldados, os cientistas, os
trabalhadores, os agricultores, os rapazes de vocês, as moças de vocês, que
hoje são profissionais de luta, ao mesmo tempo que desenvolvem uma profissão,
são simultaneamente adestrados na luta pela sobrevivência... As festas são
interrompidas por atentados terroristas; vemos nos jornais, bares que explodem
de repente. “Estamos de pé, atentos”, devem dizer vocês, advertência de Ben
Gurion. Tenho muita admiração por esse homem, vou citá-lo duas vezes. O modesto
e resistente, silencioso e ousado Ben Gurion, que recomendava, são palavras
dele: “Israel não deve se afastar das conquistas da ciência moderna, mas deve
se fundamentar sempre na ética dos profetas bíblicos”, palavras profundas,
poucas palavras, que transmitem tudo, como precisamos disso: tradição,
religião, sem isso o homem e a mulher não vivem. Os cem prêmios Nobel
conquistados nunca devem se afastar, segundo ele, das suas raízes, da fé dos
seus antepassados, é isso o que ele queria dizer. Esse homem me causa grande
admiração, imaginem que, após a independência do Estado de Israel, dois dias
após, perguntaram a ele: “Ministro, Israel é um país igual aos outros?” Ele
respondeu: “Sim, é um país que terá prisão para os malfeitores, logo, será um
país igual aos outros.” Lá, onde a cultura é sinônimo de tudo - o Rabino não me
olha, mas ele me inteirou disso, a educação inicial dos filhos é obrigatória, o
analfabetismo é quase inexistente, as universidades são berço de estudos e
pesquisas para o mundo inteiro. Música, teatro, canções são um dos grandes
divertimentos da população. Olha, Israel, muito bem, continue assim! Vá em
frente! Muito obrigado.
(Revisto
pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Sebastião Melo está com a palavra
e falará em nome do PMDB.
O SR. SEBASTIÃO MELO: Sr. Presidente, Sr.ªs
Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais
presentes.) Estamos aqui, mais uma vez, para comemorar mais um aniversário do
Estado de Israel, com o qual nós, gaúchos, temos uma peculiaridade muito
grande, porque, foi sob a presidência desse grande gaúcho, desse grande
alegretense, desse estadista, desse humanista, desse democrata Osvaldo Aranha
que surgiu, em 1948, o Estado de Israel. A criação dessa nação, desse Estado,
apesar de todos os percalços, de todas as dificuldades, de todos os sofrimentos
é um alento para a história da humanidade, é uma esperança de superação da
barbárie, da violência, uma esperança de vida em progresso, em paz, na busca do
conhecimento. Quero introduzir desta forma, para destacar alguns aspectos. Até
havia redigido um discurso, mas tenho dificuldade e, portanto, não vou ler o
discurso e vou falar de improviso.
Eu
destaquei alguns aspectos e quero aqui sublinhar, quero enaltecer, sobre o povo
judeu. O primeiro deles, minha Presidenta Matilde Gus, é a perseverança, porque
um povo que depois de mais de dois mil anos volta ao seu Estado e luta pelos
seus ideais ferrenhamente e que é um exemplo de crença e de ética para a
humanidade, merece o aplauso de todos nós. Mas esse povo, nesses 55 anos – e
aquilo que nós discutimos nesta Casa, Deputado Ibsen Pinheiro, e a sociedade
brasileira como um todo, da velha República, da Nova República, do Velho Império
sobre a Reforma Agrária -, fez uma das reformas agrárias mais avançadas do
mundo, através dos kibutz e das
fazendas coletivas, num território que mede um oitavo do Rio Grande do Sul. Ou
seja, uma pequena nesga de terra produz, e produz de forma coletiva. Mas eu vou
mais além nestes destaques a estas virtudes. Daquela região, é o Estado que
exerce a democracia de forma plena, desde o seu nascedouro. Em todos os
momentos, renova-se o Governo democraticamente e este é um aspecto extremamente
importante, Ver. Isaac Ainhorn, ao sinalizar o aniversário do povo de Israel.
Mas eu também tenho como extremamente importante aquilo que sustenta uma nação,
que sustenta um povo, que é a liberdade de imprensa. Isso também é muito
importante. Israel também tem a sua liberdade de imprensa. Mas tem uma coisa
também não menos importante que é o respeito à pluralidade de idéias e de raças
dos mais diversos matizes. Só na constituição do Estado de Israel já havia, na
sua composição, gente de mais de noventa países e hoje de mais de cem países. E
este é outro aspecto não menos importante a resgatar nesta data de aniversário.
Mas também é importante dizer que Israel conseguiu, nesses cinqüenta e cinco
anos, ser um pólo científico e tecnológico dos mais avançados do mundo, exportando
tecnologia para o mundo inteiro. E só se faz isso com muita perseverança, com
muita garra e esse é um outro aspecto que eu também quero ressaltar nesta
homenagem.
Por
fim, quero dizer que, muito especialmente aqui no Rio Grande do Sul e aqui em
Porto Alegre, se nós olharmos para todos os campos da atividade humana: da
Medicina, do Jornalismo, da universidade, da pesquisa, em todos os campos da
atividade humana, nós vamos ver a parceria do povo judaico, firme, dando a sua
contribuição ao nosso Estado e à nossa Porto Alegre. Por isso, Ver. Isaac
Ainhorn, nós que, logo ali atrás, também neste Plenário, tivemos a comemoração
do Gueto de Varsóvia, também proposta por V. Ex.ª esta homenagem do resgate
daqueles bravos jovens que resistiram naquele momento mais difícil da história
da humanidade, e hoje, mais uma vez, V. Ex.ª propõe esta homenagem.
Então,
em nome da nossa Bancada, do PMDB, queremos deixar aqui a nossa homenagem a
este povo bravo e que tantas contribuições têm dado à comunidade. Portanto,
minha Presidenta, este abraço é extensivo a toda a comunidade.
Mais
uma vez, Ver. Isaac Ainhorn, meus cumprimentos pela iniciativa. V. Ex.ª orgulha
esta Casa pela sua postura, não apenas pela homenagem que presta a seu povo,
mas pela sua forma firme de atuar, de representar bem os cidadãos da nossa
cidade de Porto Alegre. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra
e falará em nome das Bancadas do PFL e PSDB.
O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente, Sr.ªs
Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais
presentes.) Lembro-me - há cerca de trinta anos, quando eu mal havia chegado à
Câmara de Vereadores - de um estímulo que recebi de um amigo – Armando Burd - para
promover, na ocasião, o que me consta ser a primeira homenagem que se fazia ao
Estado de Israel. Era o ano de 1973, Ver. Ibsen Pinheiro, e eram os vinte e
cinco anos do Estado de Israel. Vem-me à lembrança esse fato, porque busquei
reencontrar um documento que, na ocasião, me foi possibilitado. Era um artigo
da revista Realidade, escrito por um
dos maiores brasileiros que conheci, que é Carlos Frederico Werneck de Lacerda,
que falava sobre o que ele entendia ser a característica maior do povo judeu,
isto é, a capacidade de desconsolo. Digo-lhes isso, porque não sei falar sobre
o Estado de Israel sem falar no povo judeu. Não haveria essa perspectiva de um
Estado nacional que reunisse a comunidade judaica, se não houvesse esse
desconsolo que, ao longo do tempo, fez com que, por séculos e séculos,
persistisse essa busca daquilo que seria a realização do sonho de milhares de
homens e de mulheres que, sobrepondo-se a obstáculos que a história me
descreve, alimentaram um sonho, afinal realizado, de Theodor Herzl, de ver, em
1948, constituído o Estado de Israel. Falo, portanto, de um povo que, em
milhares de anos, tem sofrido tentativas no sentido de ser subjugado e, mais do
que subjugação e eliminação, tem resistido estoicamente. Por isso, eu não
entendo que, ao se constituir, em 1948, o Estado de Israel, tenha nascido um
novo Estado, e sim que tenha renascido uma nova esperança e que tenha ocorrido
uma nova confirmação. Já que este povo, que contra todos os prognósticos,
resiste a todas as investidas objetivando a sua integração e, que, a cada
tentativa, se reergue mais fortalecido, merece o meu respeito, merece o meu
reconhecimento.
Eu
penso que aprendi a conhecer esse povo andando pelas ruas do Bom Fim na minha
adolescência. Foi com o Ferrugem, foi com os Maltz, com os Halperin, com os
Soibelman, com os Melzer, com os Gus, com os Knijnik que eu comecei a entender
o que é ser judeu e por que é tão importante para o povo judeu ter o seu Estado
de Israel. Eu acho que compreendi, acho que entendi, já que esse povo, que hoje
aqui homenageamos, por sua luta eterna e infinita pela terra, pelo seu pedaço
de chão, pelo seu lar nacional, que sempre, desde tempos imemoriais, buscou
obter e que agora busca firmar que é
seu, esse povo é povo do desconsolo de que me falava Carlos Lacerda.
E
aos desconsolados de hoje, aos que não aceitam o retorno, aos que entendem que
Israel existe e que deve persistir, a esses eu quero hoje prestar as homenagens
do Partido da Frente Liberal e dizer, não shalom,
mas mais do que shalom, quero expressar,
como “goy”, uma expressão contida no Hino Nacional de Israel: hatikva. Essa expressão hatikva é a esperança de que os nossos
prognósticos se realizem. Shalom e hatikva. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Esta é uma Sessão Solene para
comemorarmos os 55 anos da independência de Israel. Se nesta Sessão nós
conseguirmos fazer mais um elo na corrente para a paz, terá valido imensamente.
É por isso que, quebrando um pouco o Regimento, vamos dar a palavra ao Médico,
Jornalista, Radialista Abraão Winogron, por três minutos, para que ele fale da
sua experiência de ter vivido em Israel e aqui em Porto Alegre, onde ele
nasceu.
O SR. ABRAÃO WINOGRON: Sr. Presidente, muito obrigado, demais
membros da Mesa, muito obrigado. Não é fácil ser judeu, acreditem que não é
fácil. Eu nasci no planalto do Erechim, numa vila chamada Vila Áurea, hoje,
Município. Áurea. Existem praticamente duas pessoas de Áurea: eu e o Alberto
Pozotzik, que está sentado ali. Por curiosidade, somos os únicos.
A
cor do meu sangue é vermelha, o meu clube é o Internacional, o defendi jogando
basquete. A minha pátria é o Brasil, amo este País, tudo farei por ele.
Quanto
à minha graduação, me formei na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em
Porto Alegre, e fiz pós-graduação na Universidade Hebraica, em Jerusalém.
Sou
um cirurgião-ortopedista e, quando da minha residência médica, eclodiu a Guerra
do Dia do Perdão, o “Yom Kippur”.
Senhores,
todos os seniores do meu departamento foram para os hospitais de campanha.
Ficamos três professores-chefes e um residente médico: eu. Eu tinha aprendido
Medicina em um lugar só: Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre.
No
primeiro dia de combate, nós recebemos trinta e poucos feridos - primeiro dia
de combate. Cada professor pegou um paciente, sobraram vinte e oito e eu fui
para o bloco cirúrgico. Por volta da minha terceira cirurgia, o professor foi
olhar quem é que estava operando, não me conhecia:
“Onde é que tu aprendeste Medicina?” Eu
disse: “No maior Hospital do mundo.”
“Qual
é o hospital?” Eu disse: “Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre.”
Senhores,
eu vi a Guerra. Eu amputava pernas todos os dias, mas houve um dia especial, no
qual eu fui obrigado a concluir doze amputações. Os pacientes na guerra têm
dezoito anos, altura 1,80m, olhos verdes, a esperança pela frente e só nos
pedem uma coisa: “Ruivo, pelo amor de Deus, faz tudo que for preciso, mas não
me corta a perna.” Eles sabiam que já tinham perdido a perna porque haviam
pisado em minas ou tanques haviam explodido. Eu vi a guerra. A guerra tem um
cheiro de carne queimada. Hoje eu quero a paz. Para fazer a guerra basta um,
mas, para fazer a paz, eu necessito, no mínimo, de dois. Israel vive a dezenove
mil e cinqüenta dias em guerra. É isto: dezenove mil e cinqüenta dias em
guerra! Até quando se pode guerrear? É um povo cansado, é um povo que tem as
suas pernas amputadas, mas que continua lutando, é um povo que pede paz.
Curiosamente,
o Ver. Pedro Américo Leal me diz que o povo judeu, a condição judaica é uma
coisa estranha. Nós somos brasileiros, todos nós somos brasileiros, fora os
imigrantes que para cá vieram. Mas os que nasceram aqui sentem, nós pertencemos
a uma etnia. Eu quero explicar para vocês, por um instante, o que é essa etnia.
Os cristãos vão me entender. Imaginem o Vaticano sendo atacado diariamente por
toda a Itália, pelos mais distantes exércitos e terroristas provenientes de
toda a Itália, que querem destruir o Vaticano por um motivo: porque o Vaticano
é cristão. Qual seria o sentimento de um cristão se o Vaticano estivesse sendo
bombardeado, ameaçado, torpedeado há dezenove mil dias, pelo fato de querer ser
cristão? Isso é o que nós sentimos por Israel. É uma iminência, Israel pode
desaparecer.
Pois
bem, realmente os judeus ganharam bem mais de cem Prêmios Nobel: de Medicina,
de Física, de Economia. Ganhamos dois Prêmios Nobel da Paz. Menachen Begin
ganhou o Prêmio Nobel com Anuar Sadat, 1979. Depois Shimon Peres e Isaac Rabin
ganharam juntos o Prêmio Nobel. Curioso, os judeus só ganharam Prêmio Nobel em
parceria com elementos de etnia islâmica, muçulmanos. E é com os muçulmanos que
nós temos que fazer a paz. Eu olho para Israel e vejo uma história, uma
história terrível, mas eu vejo, para a frente, um futuro de paz. E é por isso
que, quem esteve na guerra hoje pede a paz. E encerrando: o meu nome é Abraão,
em hebraico, ele quer dizer ava la am, “pai
do povo”. Eu tive a felicidade de aprender árabe porque atendi pacientes árabes
em grande quantidade, a metade dos meus pacientes era árabe e a outra metade
era judeu. Em árabe, o meu nome quer dizer: Iba
bra im. Abraão e Ibraim são a mesma pessoa. Nós, tanto os judeus, quantos
os israelitas somos filhos do mesmo pai.
Eu
conclamo neste momento que esses filhos do mesmo pai, Abraão ou Ibraim, se unam
e parem com esse massacre, não entre primos, mas entre irmãos. Então neste
momento em que eu digo: Am Israel Hai
vekaiam, eu digo: Shalom ve Salam.
(Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): A Sr.ª Matilde Gus, Presidenta da
Associação Israelita, está com a palavra.
A SRA. MATILDE GUS: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda
os componentes da Mesa e demais presentes.) Uma saudação aos membros da nossa
comunidade que como sempre estão coesos atendendo ao nosso pedido. Não deixem
de vir à Câmara, nós deveríamos encher este Plenário, no entanto, devido a
problemas de horário e de compromissos, como nós sabemos, vocês estão aqui e
valorizam este momento. Muito obrigada a todos.
A
Câmara de Vereadores de Porto Alegre tem sido um símbolo vivo da cidadania, da
solidariedade e da democracia em sua ação de representação para e pela
população de nossa Cidade.
Realçamos
aqui a feliz coincidência da data de hoje, 13 de maio, em que comemoramos a
libertação dos escravos em nosso Brasil. Vítimas esses escravos e seus
descendentes também de discriminação inaceitável, irracional e desumana.
Queremos, pois, usar a oportunidade para homenagear esses nossos irmãos e
compatriotas, expressando a certeza de que o mundo ainda verá a integração de
todos nós, o respeito mútuo e a convivência sadia como uma realidade social.
Voltando
agora ao elogio da ação de nossa dinâmica Câmara Municipal, apresento como um
exemplo dessa mesma ação esta homenagem aos 55 anos do Estado de Israel que,
por sua vez, é um símbolo também das mais valiosas liberdades que um povo
democrático defende. Sabemos todos das dificuldades que Israel vem enfrentando,
apesar de seu desejo, pelo menos há já 55 anos acalentado, de viver em paz e
integrado no Oriente Médio. Essa é uma história cujo início remonta há quase
dois mil anos, quando no ano 70, depois da era comum, os judeus foram
compelidos a se espalharem pelo mundo, iniciando o que chamamos até hoje a
Grande Diáspora. Mas não se assustem, não vou contar toda a história, vamos nos
reportar agora à modernidade, ao final do século XIX, quando Theodor Herzl, o
profeta moderno do Estado Judeu, consolidou o sionismo como o maior sonho desse
povo. Iniciava-se aí a concretização da prece bimilenar, sempre presente em
nossos corações: “Se eu te esquecer, ó Jerusalém, que eu perca a minha destra.”
Quando David Ben Gurion, em 14 de maio de 1948, leu a Declaração da
Independência do Estado de Israel, sua primeira frase foi: “A Terra de Israel é
a terra natal do povo judeu. Aqui se formou sua identidade espiritual,
religiosa e nacional. Aqui este povo criou uma cultura de significação local,
regional e universal. Aqui escreveu e deu ao mundo a Bíblia.” Falou ainda Ben
Gurion: “O Estado de Israel basear-se-á nos princípios de liberdade, justiça e
paz conforme concebidos pelos profetas de Israel. Garantirá liberdade de
religião, consciência, educação e cultura; protegerá os lugares santos de todas
as religiões e se manterá fiel aos princípios da Carta das Nações.” Tudo isso
tem sido realizado até hoje. Finalmente, lançou Ben Gurion, com voz embargada
pela emoção, um convite esperançoso: “Estendemos nossa mão num oferecimento de
paz e boa-vizinhança a todos os Estados vizinhos.” Porém, este convite a nenhum
vizinho comoveu. No mesmo dia, os exércitos de cinco países árabes preparam-se
para atacar Israel: Egito, Iraque, Jordânia, Líbano e Síria, e ainda com o
apoio de uma companhia de soldados da Arábia Saudita. Israel, quase totalmente
indefeso, sustentado porém por uma única certeza: sua derrota significaria sua
extinção. Ele não podia ser derrotado. Iniciou-se assim a primeira guerra de
Israel moderno: a de sua independência. A ameaça assustadora de atirar os
judeus ao mar prolongou-se por todas as outras guerras que Israel teve de
enfrentar. De todas saiu vitorioso, pagando, porém, um incalculável preço em
vidas de jovens do Exército de Defesa, a Haganá - que é o único exército que
Israel possui: o seu exército de defesa - e também em vidas de cidadãos do
País. Nem bem saídos do horror do Holocausto, os judeus de Israel já se viam
envolvidos em ondas de ódio e matanças. Atualmente, a guerra ainda existe - é
uma guerra diferente, sem enfrentamento direto de grandes exércitos, mas não
menos dolorosa, pois atinge um grande número de famílias que têm seus pais,
filhos, bebês estraçalhados ou, se ainda vivos, com pedaços do corpo
arrancados, queimados, mutilados. Esse quadro de horror é, infelizmente,
verdadeiro e comum, atingindo emocionalmente a maioria dos cidadãos, por laços
familiares ou de amizade, numa população que beira os cinco milhões e meio de
habitantes.
Esse
quadro de horror não tem a intenção de chantagear, provocando emoção, mas
tão-somente a de mostrar o outro lado da tragédia, o lado que atinge os
israelenses e que é, com freqüência, lamentavelmente, escamoteado ou minimizado
pelos meios de comunicação em geral.
Cercado
por vizinhos, em sua maioria hostis, constantemente ameaçado de ser eliminado,
ainda assim, Israel, em troca de paz, devolveu territórios, o que na verdade é
muito raro, entre outros países de outros locais que estejam em litígio; é
muito rara a devolução de territórios conquistados em guerras que Israel não
provocou, não quis e não pediu.
As
ações atuais de Israel são de defesa dos seus cidadãos. Qual nação do mundo
civilizado se omitiria no combate ao terrorismo em seu próprio território?
Quem, em sã consciência, abriria as suas fronteiras ao ingresso de homens-bomba
que atingem pessoas inocentes, mortas ainda e novamente pelo simples fato de serem
judeus? Apesar disso, Israel não cessa de pedir paz! Para essa tão ansiada
conquista, todos nós, cidadãos do mundo livre e democrático, oramos juntos, sem
jamais perder a esperança, isso porque, sem paz, definitivamente, não há futuro
para os povos.
Falemos
agora das boas coisas, do otimismo, das conquistas: humanas, científicas,
tecnológicas, artísticas e culturais. É difícil encontrar uma área do
conhecimento, de produção de benefícios e do progresso humano para a qual
Israel não tenha contribuído.
Numa
área menor do que o nosso Estado de Alagoas, uma grande nação vem sendo
construída, baseada, ainda, sempre e apesar de tudo, na visionária mensagem que
Ben Gurion nos legou.
Essa
é a visão que queremos mostrar ao mundo: uma pequena grande nação que,
confiamos, vencerá as dificuldades que a afastam de seu almejado convívio
harmonioso com seus vizinhos. Uma pequena grande nação que esperamos que, pelo
menos, a médio prazo, poderá inaugurar uma era de paz, prosperidade e
humanismo, para toda a região e, como um corolário, para toda a Terra. Muito
obrigada. (Palmas.)
(Não
revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Neste momento, convidamos todos os
presentes a ouvir a execução do Hino Rio-Grandense.
(Ouve-se
o Hino Rio-Grandense.)
Agradecemos
pela presença dos senhores, e damos por encerrada a presente Sessão Solene.
(Encerra-se
a Sessão às 18h52min.)
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